quarta-feira, 8 de julho de 2009

A cultura escrita e o desenvolvimento do Ocidente

A escola na base de transformação da sociedade
A passagem de um modo de vida assente na cultura oral para um modo de vida com base na cultura escrita não se deu de forma linear, provocada por acontecimentos isolados; mas pelo contrário, como todo o processo de mudança nasceu dos conflitos, da ruptura com os paradigmas sociais vigentes. De acordo com António Candeias, «as relações entre as sociedades ocidentais e os modos de cultura escrita que nelas foram criando raízes até se tornarem dominantes no século XX» evidenciam um processo de transformação num crescente histórico marcado pela Revolução Industrial e as mutações provocadas pelos ciclos económicos que acompanharam todo o processo; «o entrelaçar entre a Reforma Protestante e a Cultura das Luzes» do qual emergiu a «cultura do cidadão»; a consolidação do Estado-Nação e o «aperfeiçoamento de aparelhos estatais» que legitimaram a ascensão dos ideais burgueses.
A consolidação do Estado-Nação conduziu a uma crescente sofisticação das sociedades, cuja complexidade deriva e alimenta uma realidade quotidiana embebida na cultura escrita, levando o indivíduo a recorrer ao domínio desse mundo simbólico para potenciar uma mobilidade social que outrora não seria possível.
Na construção das sociedades modernas ocidentais a ideia de progresso, inspirada pelo salto tecnológico dado aquando a Revolução Industrial, pressupunha uma socialização uniforme e prolongada que modelasse os povos de acordo com um ideal de cidadão que sobrelevaria eficaz e competitivamente o Estado-nação em todos os seus domínios: económico, politico, social, cultural.
Esta socialização teria como veículo a escola de massas e um sistema educativo construído para o efeito, dotando os indivíduos, simultaneamente, de conhecimentos rígidos, simbólicos e de valores conformados com os mecanismos de gestão política e social que a nova organização administrativa assim o impunha.
Assim, progressivamente a escola foi incorporando o movimento voluntário de alfabetização num sistema formal cujas directrizes ditariam o que seria ensinado e a forma como esses saberes seriam transpostos para o quotidiano social e profissional dos indivíduos, tornando-se a base de transformação do aparelho produtivo e do tecido social.

Obra em estudo: Literacia e Sociedade, Contribuições pluridisciplinares. Organização: Maria Raquel Delgado-Martins, Glória Ramalho, Armando Costa. Editorial Caminho, SA, Lisboa, 2000

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