Há já algum tempo que não habito por estas paragens, pois, tendo orientado este espaço para a reflexão académica, torna-se dificil dar-lhe outro tom.
O primeiro semestre do 3º ano arrancou com dificuldade acrescida, pesando em absoluto os compromissos familiares e profissionais a que tenho de atender. Não tenho tido tempo para as leituras e muito menos para reflectir sobre as mesmas.
Sinto-me como o coelho da Alice, agarrada ao relógio e sempre a correr, sempre atrasada, sempre com um compromisso imprescindível e inadiável, tal que, os momentos de silêncio são especialmente apreciados.
Assim, quebrando o jejum de alguns meses, aqui estou eu reflectindo sobre o que considero ser um atrofio de Natal.
Sem espaço de manobra, este ano o Natal veio sem árvore e sem ela, senti a ausência da dança das luzes, dos embrulhos coloridos, das canções de fundo. A verdade é que não me apeteceu fazê-la, pois teria sido mais um check na atribulada agenda, um cumprir de calendário.
Temos um calendário engraçado e sobretudo consumidor. Nesta época diz: compra.
Este ano, como em nenhum outro, senti a mão pesada que nos empurra para a caixa de um qualquer estabelecimento. Resisti, o mais que pude!
Contrariada, pensei em comprar um presente para cada um dos miúdos, um para cada bisa e zero para os adultos. E mesmo pondo em prática este plano, ainda assim, não deixei de sentir o gosto amargo daquele algo que nos compele a comprar para o Natal.
É um algo ardiloso que, sob o premiado spot publicitário do «Este Natal dê!», conduz-nos, uma vez mais, para o turbilhão do shopping. Parece pouca a diferença, sem importância até, mas de facto assim não o é!
Se descaradamente nos dissessem «Este Natal Compre!» teríamos um alerta aranha a zumbir nas nossas cabeças. O Natal não tem nada a haver com o comprar, é antes a dádiva de um nascimento, a celebração da familia. E lá porque os Reis Magos viajaram pelo deserto para oferecer, não quer dizer que o tenham feito com oferendas made in qualquer outra parte do mundo, sob o jugo de turnos pesados e mal pagos.
Os Reis Magos presentearam o Menino Jesus porque devem ter respondido à singela questão, cuja resposta é encontrada no seio do silêncio que nos permite ouvir o som da nossa própria voz : o que tenho eu para oferecer?
Assim, foram oferecidos três presentes tão simbólicos como o próprio Nascimento que viria a transformar o Homem.
Após sucessivas vagas de evolução histórica, que nos trouxeram a este exacto momento, o Homem tornou-se num tradutor do complexo mundo natural e social, procurando compreender e simplificar todas as suas vertentes. Num rasgo de suprema inteligência a sociedade ocidental do final do século XX despediu a figura mítica do Menino Jesus e substituí-O por uma mais terrena, patrocinada pelo refresco mais bebido no mundo inteiro: o Pai Natal, vestido e calçado pela Coca-Cola, famosa pelos seus designs formatadores! Desde então, pensamos ter a cura para o conflito religioso que opõe crenças e povos, bastando, para o efeito, unirmo-nos num grande esforço global de estoirarmos o saldo bancário (risco muito mais eminente do que a extinção global que não passa de uma ameaça), comprando para oferecer, tal como fizeram os Reis Magos, que como se sabe não vieram de Ocidente. Assim, ao regressarem à escola, os nossos filhos podem, civilizadamente, falar de valores e rivalizarem no grau de demência que afectou os pais e familiares, ainda que, algures e em alguns deles, surja aquele sentimento de injustiça por, apesar do bom comportamento e das excelentes notas escolares, os pais só investiram 70€ em peças para actualizar o pc, enquanto que outro, faltoso e com 7 negativas, recebeu um computador novo, no valor de 899€.
Na minha simbólia tentativa de furar o Natal, ainda assim não consegui evitar que o Pai Natal trouxesse, além de muitos outros, três carros telecomandados para uma só criança e nem consegui evitar o vazio que se sente logo após o último papel rasgado.
Assim, na minha última tentativa de boicotar o Natal e até porque já são horas de almoçar em familia, não vos ofereço quaisquer presentes, apenas vos desejo muita paz, que por não ter valor comercial não vos interessa nada.
Feliz Natal.
Li, concordo e assino por baixo. Já é altura de pararmos e reflectirmos sobre o verdadeiro espírito natalício. De cada vez mais se assiste a uma correria desenfreada ás lojas, para ver quem oferece mais e melhor! Ah! e tem de ser da marca xpto, se alguém oferece umas cuequitas, não vale nada, só se forem da "Dolce & Gabana" (publicidade à parte, porque não nos pagam para tal). Pois é acho que todos deveríamos parar e pensar o verdadeiro espírito natalício! Ema desejo-te, a ti e família, claro, aliás desejo para todos quantos leiam este blog, incluindo eu, que 2010 nos traga tudo de bom, principalmente muita Paz, Amor, Saúde e Trabalho. Beijos e abraços!Elsa Teixeira
ResponderEliminarOlá Elsa!
ResponderEliminarÉ uma agradável surpresa a tua participação.
Obrigada pelo teu comentário.
Tudo de bom para ti e para os teus.
Que 2010 traga a oportunidade que mereces.
Um xi!
Com Amizade,
Ema
Como eu a compreendo, querida Ema! Todos os anos passo por esse dilema.
ResponderEliminarLá vou resistindo...com o sabor amargo que fica depois da "fartança".
Votos de um ano de 2010 com excesso mas é de saúde, sorte e felicidade (a possível).
Bj Bj de Ana Pereira
Já sentia falta da minha comentadora oficial.;)
ResponderEliminarObrigada pela participação!
Desejo-lhe um grande 2010, cheio de saúde e de muita espiritualidade.
Um grande abraço,
Ema
amiguinha,só posso dizer que li e gostei imenso.Pois para mim o Natal
ResponderEliminarrepresenta o nascimento de Jesus,e por isso nessa noite quem vive essa data,sente amor á sua volta,muita Paz.é uma data algo estranha,melancólica,que nos enche de amor.bjs e um Ano de 2010 com muita saúde e Paz
Olá Felisbela!
ResponderEliminarVivemos tempos de alguma melancolia, saudades de um ritmo de vida mais natural.
Um grande abraço e um 2010 com saúde e estabilidade.
Ema